A Yakissoba Story – parte 2 – um subtítulo espertinho.

Talvez você se lembre de onde a história havia parado. Em caso negativo, favor reler o último parágrafo do capitulo anterior. De lá pra cá, pouca coisa aconteceu. Você seguiu meu conselho (e o rato) e correu com energia, evitando um destino similar ao do guarda-chuva, agora espatifado, mas ainda não-ensanguentado.
Com a ajuda do farol do metrô você avistou o roedor, mas isso não foi de grande valia: ele estava muito na sua frente. Você não o perdeu de vista (sim, você tem lá seus méritos, meus parabéns) até onde pôde. E, ” até onde pôde” , nesse caso, é o lado de fora da Estação Vila Mariana. Aliás, como num típico mapa de parque de diversões, no momento, você está aqui.
Ainda um pouco zonzo do flashback, você avista um último vestígio do roedor (comumente o rabinho) sumir por trás de um carrinho de yakissoba. Não é esse o yakissoba do qual trataremos, e sim um desimportante concorrente. Não, não. Raiva não te levará a lugar algum. Seus pés, para tanto, têm muito maior potencial. E olhe só! Já recomeçam a se mover, você querendo ou não. Isso porque sou eu quem manda nessa história, e acontece que gosto imensamente de brincar com marionetes. Os fiozinhos invisíveis das palavras te arrastam (civilizadamente, por supuesto) ladeira abaixo pela ruela Capitão Cavalcanti. O narrador acaricia um gato branco de focinho maléfico. Muahahahaha. Ahem.
Aterrorizado, você se aproxima da faculdade. Calma. Não sou tão terrível assim. Não é para a aula que eu estou te levando. É para o bar (como num passe de mágica, seus pés voltam a se mexer por vontade própria). Isso daria um interessante estudo à la Pavlov. Pena que perdemos o rato. Olhe lá, um toldo berrante. Parece um bom lugar. Sentou do lado de fora? Ótimo. Pode pedir uma cerveja. Eu pago.
Enquanto o derivado de cevada não aterriza em sua mesa, olhe para o lado. Tem uma barraquinha de yakissoba, vê? Tem alguém se aproximando para fazer um pedido. E o SEU pedido chegou. Cerveja em punho? Está com um bom panorama do chinês? Pois bem. É assim que você deixa de ser personagem, e passa a mero observador. Ora, vamos. Foi bom enquanto durou.

A Yakissoba Story – Parte 1- jogos de gato e rato

Vou contar uma história. E, como em muitas histórias sobre yakissoba, esta começa com um rato. Imagine que há um pequeno roedor trotando em algum lugar comprido e escuro.Pronto? Então lhe digo, como se fosse a protagonista de um filme de perseguição: leitor, siga aquele rato!

A pequena criatura corre em direção à luz no fim do túnel.Não, o animal não morreu (infelizmente, para todas as damas acompanhando a história). Você pode ver, agora que seus olhos se acostumaram à claridade, que não se meteu num buraco qualquer. É um túnel do metrô.

O ser peludo, que não faz a menor idéia do que é um metrô, continua a correr do seu perseguidor (você), e salta por sobre um obstáculo nos trilhos: não um dos lendários suicidas do transporte urbano, mas um inofensivo e, ainda bem, não-ensanguentado guarda chuva, que alguma pessoa destrambelhada inadvertidamente arremessou dentro do vão. A destrambelhada, aliás, está te olhando de forma bastante curiosa. Ela, e a torcida do flamengo.Isso, porque você deve ser muito bonito(a). Ou é isso ou é porque, caso a memória lhe falhe, você está está sobre os trilhos do metrô perseguindo um primo do mickey. Você aproveita a ocasião para ler “Ana Rosa” numa das placas verdes ali perto, sem deixar de correr. O que resulta, é claro, num tropeço no guarda-chuva (que por não ser um suicida, e não estar ensangüentado ainda não havia sido resgatado dali. Ninguém se importa com guarda-chuvas, você sabe). Enquanto cai, algo na sua mente sussura que este seria um momento irônico para o autor escrever que a curiosidade matou o gato (sua mente deve estar bem satisfeita agora), antes de se esborrachar de boca nos trilhos do trem. Muito pouco higiênico de sua parte, eu diria.

Mas pelo menos agora você sabe que alguém gosta de você (isso, porque você deve ser muito bonito, claro)lá em cima (ou aqui no teclado), já que você se levanta, ileso e com todos os dentes, mesmo depois do ataque da curiosidade. Não me olhe desse jeito. Vamos, volte a correr, senão não alcança mais o rato! E é bom não ficar aqui para discutir o motivo, nem onde entra o yakissoba nisso tudo. O metrô já vem chegando, meu bem.

Aos dezembrinos

se anuncia a chegada, com um inaudível clarim
dos passos a serem dados que a manhã implica
e a aurora nos encontra a perseguir tamborins

Executando planos não traçados que só o caos explica
como sempre chegamos a um novo festim
por caminhos de quartzo, feldspato e mica

mas se quiserdes entender, absorve esta dica:
a alma daqueles nascidos perto do fim
guarda a secreta cor de burro-quando-fica.

a teoria na prática

Você sabe o que eles dizem. Uma borboleta bate as asas em Macau, um tufão atinge São Francisco. Deviam fazer uma petição em prol do extermínio das borboletas. Imagine só quantas vidas seriam salvas! Mas se borboletas causam tufões…e os passarinhos? Ah, certamente eles fazem a terra girar. Mas não são tão bonitos de se ver, num dia de sol. E são mais difíceis de alfinetar num isopor. Aliás os alfinetes teriam que ficar bem maiores para atender o propósito dos colecionadores. Traria um lucro imenso pras empresas de alfinetes. E eles ficariam mais caros, sem dúvida. Pobres costureirinhas…não vão poder bancar a quantidade de alfinetes que a profissão exige. As roupas vão ficar todas mal-acabadas. Mas não vai ter problema, porque toda a população mundial vai estar mal-vestida mesmo.
Se bem que as pessoas vão parecer meio esquisitas. Bem menos apanhadas do que estavam acostumadas. Vão se sentir menos atraídas umas pelas outras (sabe como são superficiais, essas pessoas…).Farão menos sexo. Dentro de algum tempo os índices de natalidade vão ter caído que é uma beleza…Adeus superpopulação. Adeus problemas de fome, moradia, emprego! Haverá poucas crianças, mas todas imensamente paparicadas, felizes e saudáveis correndo por aí em suas roupas feias e colecionando passarinhos. É. Sou definitivamente a favor do extermínio de borboletas.