De onde vinham tantos amigos, festas, convites? Começou a desconfiar, o que aquela gente andava querendo dele?, isso não podia ser normal.
Tentou contra-argumentar, que pensamento estúpido, paranóia, esquizofrenia, como se chamava isso mesmo? Mas não conseguiu tirar isso da cabeça, aquela gente toda, só podiam estar se aproveitando dele.
E resolveu descobrir na prática o que estavam lhe roubando, o bando de abutres. Parou de emprestar dinheiro, de pagar rodadas de bebidas, de se oferecer para fazer o trabalho dos outros. Parou de dividir a conta por igual, de dar carona, de ceder a cadeira. Parou de emprestar cigarros e de oferecer goma de mascar. A sua goma de mascar, aqueles abutres.
Tomadas as medidas, aguardou os efeitos.
O tempo passou e suas suspeitas se agravaram.
Os amigos continuavam lá. Como sempre, lá, os amigos, as festas, os convites. Devia haver alguma outra coisa que eles estavam usurpando. Abutres.
E então ele entendeu.
E parou de ser legal.